1. |
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“Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança.
E não se acabará só nisto o dano
De vossa pertinace confiança:
Antes, em vossas naus vereis, cada ano,
Se é verdade o que o meu juízo alcança,
Naufrágios, perdições de toda sorte,
Que o menor male de todos seja a morte!”
(Luís de Camões, Lusíadas, Estrofe 44, Canto V)
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2. |
Ignífero
04:23
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Vou-me consumindo num lento crepitar
Entregue à indolência de um doce vaguear
Mas agora ardo
Agora me excito
Ignífero
Farejo-te, pressinto-te
Sei que ardes tu também
Os escombros do mundo reclamam
Que ardas tu também
E num amplexo inflamado de vertigem
As artérias ejaculam a fuligem
Ostentando os vestígios da paixão
Adornando os detritos da nossa combustão
Ignífero
Sei que ardes tu também
Deixo-me embriagar no caudal do teu ventre
Inunda-me, feroz, a tua lava incandescente
Refém deste inferno
Só aí me excito
Ignífero
Farejo-te, pressinto-te
Sei que ardes tu também
Os escombros do mundo reclamam
Que ardas tu também
E num amplexo inflamado de vertigem
As artérias ejaculam a fuligem
Ostentando os vestígios da paixão
Adornando os detritos da nossa combustão
Ainda que exangue, aguardo, solene, o cavalgar de um novo frémito nas entranhas. Sei que de novo serei tomado pela erupção da ressaca, pela ânsia de mergulhar naquela euforia escravizante que me faz querer arder de novo, para sempre, contigo.
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3. |
Refúgio
04:27
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Longe de mais
Podia ser o nosso grito de amor
Se tu quiseres
Exacerbamos o mais débil clamor
Que faça despoletar
O magma ardente que nos vai inflamar
Longe de mais
Como um exílio de novas transgressões
Que nos vai exilar
Do degredo das velhas contradições
Falácias para amputar
Dejectos que não vamos querer camuflar
Longe de mais
Sucumbimos à força do turbilhão
Uma força vital
Que se agiganta no calor da fusão
Estagnados como corais
No esgotamento das volúpias carnais
Longe de mais
Já nada impede o prenúncio do fim
Uma insurreição
Que nutre o mais desvairado motim
Condenadas a morrer
Quimeras gastas que vão desvanecer
No refúgio das palavras
Longe de mais
A língua expele um chamamento ancestral
Vou-te segredar
Um manifesto tão incondicional
Impulsos a latejar
A comunhão que nos vai fossilizar
Longe de mais
Podia ser o nosso grito
No refúgio das palavras
Os corpos vestem-se de pedra
Esculpimos a nossa implosão
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4. |
Eterno Retorno
05:57
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Reconheço outra vez esta voz a segredar
Um veneno insidioso, um murmúrio exalado que entorpece
Que viola e que reclama um desejo depressivo que enegrece
Tudo o que já fingi acreditar
Miragens que forjei para me iludir
Agora é tempo de querer desertar
De me estilhaçar num tumulto
Conspirações à deriva num dilúvio que não vou querer estancar
Projecto os meus olhos decepados
A força bruta de me querer parir
Vocifero um pranto desvairado
Um desígnio a emergir
Reconheço outra vez esta voz a segredar
Um veneno insidioso, um murmúrio exalado que entorpece
Que viola e que reclama um desejo depressivo que enegrece
Um espasmo de palavras erosivas
Adorna o vazio que me entedia
A eloquência das falácias invasivas
De regresso ao abismo
Repetição do eterno retorno
Nenhum apogeu após o colapso
Apenas os escombros, tentáculos de aço
Infecta-se a vida com um novo sufoco
Um luto manso carpindo o fim
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5. |
Miasma
04:18
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Regresso a custo dos confins de um outro tempo
Já nada resta dessas coisas que esqueci
Abandonados os despojos do passado
Vislumbro agora qualquer coisa,
Que se insinua
Que escava fundo
E que deflagra
Velhas voragens sepultadas
Condenadas
Agrilhoadas
E fatais
Insuflado por fétidos miasmas
Que profetizam a volúpia dos sentidos
Insurrectos, inflamam-se os instintos
Num frémito inexpugnável
Que se insinua
Que escava fundo
E que deflagra
Velhas voragens sepultadas
Condenadas
Agrilhoadas
E fatais
Taxonomia de pestilências
Um éden de poluição
Espasmos inusitados
Sob o pulsar da detonação
A morte esquarteja a vida
Sob o pulsar da detonação
A morte esquarteja a vida
O mundo insiste em esperar por mim
Com um regaço mutilado
Embalo laudatório
Quando tudo está putrificado
Miasmas fatais
A morte esquarteja a vida
Miasmas fatais
A morte esquarteja a vida.
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6. |
Fuga Mundi
05:27
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De que solidão, afinal, se nutre a força do exílio?
Uma lenta incubação que prolifera e conquista
É uma estratégia de morte triunfal que domestica e aniquila
Que traga, dissolve e que extirpa a origem do mal
Sabotada a sua anatomia, abraço agora os seus estilhaços.
Vagueio sob a luz opaca do crepúsculo; deixo para trás o arfar sequioso dos carrascos, mas oiço ainda os seus ganidos de volúpia encharcados num cio insaciável.
Disperso por novas errâncias
Pela superfície de outros detritos
Penhascos de sombras camuflam
A morfologia de tantas guerrilhas
Mas uma chaga aberta ensopa-se em gangrena.
A memória é um intruso que não se deixa apanhar, um apêndice cravado à vontade de esquecer. Para todo o lado transporto a sua poluição, (a sua) corrupção, a sua quietude parasita.
Fujo do mundo
Corro para uma outra ilusão
Fujo do mundo
Fujo para não mais voltar
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7. |
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De muito longe vem o eco do teu uivo
Intemporal é a nossa asfixia
Ainda o sol latejava lá longe
Numa rigidez ornamental
Abraços de lepra
Repulsa homicida
Um estertor de lamentos perdidos
Calcinados por vetustas rotinas
De muito longe vem o eco do teu uivo.
Um cortejo de lembranças furtivas
Com carícias de lacrau
O testemunho solene dos dias atracando-me a um ventre animal.
Murmurando denúncias de trevas
Num silêncio estrutural
Diatribe que a todos fustiga
Num arfar de língua viperina.
Um cortejo de lembranças furtivas
Com carícias de lacrau
O testemunho solene dos dias atracando-me a um ventre animal.
Murmurando denúncias de trevas
Num silêncio estrutural
Diatribe que a todos fustiga
Num arfar de língua viperina
Num silêncio estrutural que a todos fustiga, que a todos fustiga, que a todos fustiga, fustiga…
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Uivo Bastardo Lisbon, Portugal
Rock bruto e visceral vociferado em português.
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